Você está aqui: Página Inicial > Assuntos > Fique por dentro > Níveis do transtorno do espectro autista

Noticia

Níveis do transtorno do espectro autista

O Fique por Dentro desta semana aborda brevemente os três níveis de autismo. Observe-se que não se trata de uma descrição exata dos níveis do TEA, mas de um panorama
publicado: 01/09/2020 10h14 última modificação: 01/09/2020 10h14

Níveis do transtorno do espectro autista

Ao se falar em autistas, já se pensa nas pessoas que se isolam, não interagem, falam pouco ou nada, não olham nos olhos, são agressivas, dependentes, etc. (outro texto citará rapidamente a variabilidade entre autistas). Atualmente, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais* (DSM), na sua 5ª edição, traz o autismo como um espectro amplo - o transtorno do espectro autista (TEA) que vai desde dificuldades menores com preservação da autonomia até comprometimentos maiores. O autismo é dividido nos níveis leve, moderado e severo, conforme a autonomia da pessoa, sua necessidade de ajuda e a intensidade das características do autismo.

O Fique por Dentro desta semana aborda brevemente os três níveis de autismo. Observe-se que não se trata de uma descrição exata dos níveis do TEA, mas de um panorama.

Níveis no TEA

1. Autismo leve/nível 1:

Pessoas com autismo leve são autônomas nos diversos contextos do dia a dia. Alcançam uma certa independência, não precisam de muita ajuda, compreendem e cumprem regras e rotinas de casa, desempenham atividades da vida diária com autonomia, vão driblando as dificuldades e estudam, trabalham, constituem família, etc. Muitos apresentam habilidades e talentos valorizados na nossa cultura e inteligência acima da média para algumas atividades. Além disso, vão aprendendo a suavizar algumas características do autismo nos contextos sociais. Por isso, muitas vezes, o TEA vai passando despercebido e o diagnóstico pode vir até na fase adulta. As características menos evidentes e as habilidades valorizadas levam os pares a pensar que as particularidades no comportamento da pessoa são “o jeito dele/dela”. Mas características leves não significam que o autismo não impacte a vida da pessoa e as relações sociais. O TEA aparece, é sentido pelo autista e percebido pelos outros, e a incompreensão em torno do comportamento autista ocasiona situações de sofrimento.

As características do autismo já aparecem, por exemplo, na dificuldade para iniciar interações sociais, mas os autistas leves conseguem interagir. Não tem muito interesse em buscar grupos sociais, mas se mantêm em situações sociais por algum tempo, voltando em seguida aos seus interesses. Podem preferir focar neles, sejam músicas, livros, computador, etc. ainda que os outros não queiram fazer o mesmo. Além disso, não têm bom filtro social. São extremamente honestos, sinceros, falam o que pensam. Não conseguem avaliar o melhor momento e a maneira adequada para dizer o que querem.

Quanto à comunicação, não têm atrasos de fala, conseguem se comunicar socialmente, mas há dificuldades e diferenças perceptíveis. Respondem, às vezes, de maneira diferente do que é socialmente esperado, têm dificuldade para compreender comandos, podem interpretar inadequadamente o que é dito e muitas vezes são mal interpretados. Podem não olhar ao ser chamados, não fazer contato visual ou fazê-lo de modo rápido ou diferente. São literais e têm dificuldade para compreender metáforas e expressões de duplo sentido. Também têm dificuldades para captar intenções, sentimentos, implícitos, malícia nos tons de voz, na linguagem gestual, na expressão facial, o que os faz não agir conforme o sentimento do outro ou ser induzidos por outros a fazer o que não sabem ser errado.

Autistas leves também têm um padrão de pensamento rígido, não muito flexível. Mantêm as mesmas opiniões. Possuem uma leve fixação por interesses restritos, os quais podem interferir nos contextos sociais, pois eles podem desejar falar apenas dos assuntos que lhes interessam. Têm padrões muito rígidos na forma de realizar até as atividades mais corriqueiras, o que é funcional em algumas situações, mas não em todas. Também apresentam estereotipias.

Podem conseguir fazer um pouco de tudo. Demandam pouco tratamento para se desenvolverem e serem autônomos.

2. Autismo moderado/nível 2

Autistas moderados apresentam dificuldades mais significativas em comparação com os autistas leves e precisam de mais apoio, ou seja, mais auxílio no dia a dia e mais terapias. Diferente do nível 1, o autismo nesse nível já é evidente.

 Autistas moderados demandam mais apoio para se socializar, mas com o apoio podem conseguir, até certo ponto. Têm muito pouca iniciativa para interagir. Alguns podem necessitar ser literalmente levados e mantidos na situação de interação. Sua resposta pode ser reduzida ou muito diferente do usual, ou eles podem se manter apenas ouvindo.

Podem apresentar nítida dificuldade de comunicação verbal e não verbal, atraso de fala, uso de sentenças incompletas e fala descontextualizada.

Têm mais interesses restritos, as estereotipias são mais visíveis, e eles tendem a passar mais tempo nos seus mundos. Resistem a alterações de contextos, como contato com novos grupos sociais, mudança para novos ambientes, etc., e precisam de uma preparação anterior para essas mudanças.

Crises de stress e frustração, episódios de auto e heteroagressão (vividos por autistas em todos os níveis) podem ser causadas, por exemplo, pelas dificuldades para se comunicar. As crises podem ser minimizadas com apoio.

O autismo moderado influencia a vida da pessoa em todos os contextos.  O autista moderado precisa de apoio para responder às exigências do meio. Não tem muita autonomia, apresenta muito mais dificuldade de aprendizagem e para realizar as atividades da vida diária, demandando apoio substancial e muita terapia na escola, em casa, além dos consultórios de especialistas. Mesmo com tratamento intensivo, o autista moderado precisa de apoio e têm níveis medianos no funcionamento e na vida em geral.

3. Autismo severo/nível 3

As pessoas no nível 3 apresentam as dificuldades mais acentuadas, os maiores comprometimentos. Têm iniciativa muito limitada, grande dificuldade para conversar. Às vezes, não manifestam atenção às interferências dos outros. Têm comunicação mínima e importante comprometimento de fala. Alguns são não verbais, ou seja, não falam e, para expressar o que desejam e interagir, demandam necessariamente um mediador. Tendem ao total isolamento, costumam apresentar comportamentos repetitivos graves, forte fixação nos interesses restritos e muita dificuldade para fazer o que não lhes interessa. Mesmo com o tratamento intensivo, as terapias em consultórios, o acompanhamento de especialistas, o apoio em casa, autistas severos têm pouca autonomia na vida.

Caminhada no espectro

O autismo não é uma condição inalterável. É possível que uma pessoa avance em relação ao estágio inicial. Há pessoas, por exemplo, que podem sair do nível moderado para o leve ou até passar a apresentar traços levíssimos. Isso é chamado de “caminhar no espectro”. O avanço vai depender do tratamento e dos estímulos que a pessoa receber, da intensidade e qualidade desses estímulos, da faixa etária em que começarem a ser introduzidos e da articulação entre os contextos - família, escola, terapias -, na oferta dos estímulos. Quanto mais eficazes e adequados e quanto mais cedo forem introduzidos, principalmente nos primeiros anos da infância, quando o cérebro está aberto a mudanças, mais possibilidades a pessoa tem de se desenvolver. Esse processo também é afetado pelas comorbidades que a pessoa apresentar

Não é possível esgotar todas as informações sobre as características dos níveis de autismo neste texto, nem sobre o TEA de maneira geral. Cada pessoa é única e o autismo também altera cada cérebro de maneira diferente, apesar das características em comum. Mesmo que duas pessoas estejam no mesmo nível, o autismo em cada uma é um pouco diferente. Duas pessoas com TEA leve, por exemplo, podem ser diferentes quanto à fluência na linguagem verbal. Vale muito a pena unir a ampliação da pesquisa teórica ao acesso a depoimentos dos próprios autistas, alguns disponíveis na literatura e na internet.

Acompanhe o Fique por Dentro e conheça mais sobre o TEA, sobre a inclusão das pessoas autistas e sobre a inclusão de pessoas em outros segmentos.

Fique por Dentro!

*Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Disponível no Google Play Livros: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=QL4rDAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT13&dq=manual+diagn%C3%B3stico+e+estat%C3%ADstico+de+transtornos+mentais&ots=nQ6FAEu8E_&sig=YW_HNBbOueL22rN4CoQUVLFyeBM#v=onepage&q=manual%20diagn%C3%B3stico%20e%20estat%C3%ADstico%20de%20transtornos%20mentais&f=false