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Cores na deficiência visual

Esta edição do Fique por Dentro explica um pouco como pessoas com deficiência visual podem lidar com as cores.
publicado: 12/12/2022 15h53 última modificação: 12/12/2022 15h53

Cores na deficiência visual

 

           As cores fazem parte de diversas situações do dia a dia. Mas como interagir com essa realidade sem enxergar?

           Esta edição do Fique por Dentro explica um pouco como pessoas com deficiência visual podem lidar com as cores.

        Vale pedir licença para contar que a autora deste texto nasceu cega e o escreve a partir de vivências pessoais, de relatos de outras pessoas cegas e com baixa visão e de leituras. A intenção não é generalizar, mas explicar o que às vezes pode acontecer. Vamos lá!

As cores no dia a dia e a deficiência visual

            As cores estão por toda parte. Mais do que características visuais, elas simbolizam, fazem parte da linguagem, são arranjadas conforme o contexto, os gostos individuais ou a impressão que se quer causar. Assim, têm um significado social. Como TORNAR ESSE SIGNIFICADO ACESSÍVEL A QUEM TEM DEFICIÊNCIA VISUAL? As possibilidades variam, dependendo do nível e/ou momento de aquisição da deficiência, do conhecimento de mundo e das preferências individuais.

Percepção visual e aquisição da deficiência

            A baixa visão é muito variável e não é igual à visão total. As pessoas com essa condição podem usar sua visão residual em várias situações diárias. Fatores como características orgânicas, oportunidades anteriores de estimulação visual, iluminação, período do dia e distância do objeto podem favorecer a identificação das cores ou prejudicá-la, induzindo a equívocos. Outras pessoas, já consideradas cegas, têm um resíduo visual bem reduzido. Algumas percebem luz, vultos e contrastes, mas não distinguem cores.

            Entre as pessoas totalmente cegas, há as que deixaram de enxergar ao longo da vida.  Algumas mantêm as memórias visuais, mas outras as perdem. Há também as que nunca viram e não se deve pensar que estas veem preto. Elas não têm referências para comparar e distinguir essa cor. Assim, elas contam que o que veem não é preto. Simplesmente não veem nada.

Possibilidades de apoio

            A pessoa com baixa visão deve ter estimulação visual e ser encorajada a usar todo o potencial da sua visão. Além disso, materiais e ambientes devem ter bons contrastes e favorecer o uso da visão residual para identificar cores e para realizar as atividades do dia a dia. Os cegos, por sua vez, precisam de descrições e orientações, que, quando for o caso, podem ser enriquecidas pelas memórias visuais.

            Através das interações sociais, eles sabem a cor de seus olhos, cabelos e pele. Também sabem as cores de roupas, acessórios e objetos e podem memorizá-las associando-as a outras pistas.

            Ao orientar uma pessoa cega sobre as cores de vestuário, assessórios e objetos, é legal explicar a impressão que as cores e outros aspectos podem causar, a fim de que ela tenha mais informações a respeito e autonomia cada vez maior para fazer as próprias escolhas, com base nas suas preferências e na mensagem que quer passar. As escolhas dela, como as de qualquer pessoa, devem ser respeitadas.

            Há quem proponha associar as cores a sensações que podem causar. Compreendemos que isso até é válido, mas ao mesmo tempo subjetivo e não permite generalizar. Note, por exemplo, que duas blusas do mesmo modelo e tecido não são necessariamente da mesma cor. Quando alguém sabe a cor de certo objeto pela textura, o que faz é associar duas informações sobre aquele objeto e a mesma associação não vai valer para outro.

            Também há sistemas para auxiliar pessoas cegas a identificar as cores de objetos, com o recurso a pistas táteis. Entre eles estão o See Color e o Felipa Color Code (links no final do texto). Esses sistemas precisam ser aprendidos e, durante a produção deste texto, não foram encontradas informações sobre o seu uso entre os cegos paraibanos.

            Quanto aos contextos mais amplos e às representações simbólicas, pessoas cegas também podem receber informações através das interações sociais e de conteúdos em várias mídias. Assim, podem saber que o céu é azul e o sangue é vermelho, que o branco pode simbolizar paz, o preto luto e o verde esperança e que algumas cores têm certas representações em contextos específicos. Também podem ouvir expressões usadas para explicar situações, emoções ou estados de saúde, como "terminar o mês no vermelho”, “sorriso amarelo" ou "fulano está pálido". Compreender como essas expressões são usadas socialmente lhes permite também ser compreendidas ao usá-las.

            A respeito das preferências individuais, as pessoas com deficiência visual não se interessam pelas cores da mesma forma. Algumas podem querer diversificar as cores do look e outras preferir o que não exigem muito da memória. Quanto à compreensão dos significados sociais das cores, isso depende das vivências e do conhecimento de mundo de cada uma. Assim, mesmo havendo sugestões mais gerais, saiba como a pessoa que você conhece lida com as cores, que conhecimento ela já construiu e busque orientá-la conforme a realidade dela.

            Para mais informações, sugerimos os conteúdos a seguir. Todos os links apontam para sites externos:

COSTA, Robson Xavier da; COUTINHO, Viviane dos Santos. Entre Cores e Pessoas com Visão Subnormal. Disponível em: http://www.deficienciavisual.pt/txt-Entre_cores_e_pessoas.htm

DOMINGUES, Celma dos Anjos et al. A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: os alunos com deficiência visual: baixa visão e cegueira. Brasília: MEC/SEE, 2010. p. 8-21, 39-44. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=7105-fasciculo-3-pdf&Itemid=30192.

MEDRADO, Betânia Passos; Dantas, Rosycléa. PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI "DAS CORES”: RESSIGNIFICANDO O FAZER NA AULA DE LÍNGUA INGLESA. in Medrado, Betânia Passos. (Org.) Deficiência visual e ensino de línguas estrangeiras:  políticas, formação e ações inclusivas. Campinas, SP: Pontes Editores, 2014. P. 233-250. Disponível em áudio para os usuários da Dorinateca.

RAMOS. Cristina BianchiKim; LIMA, Maria da Conceição Barbosa.  CONHECER AS CORES SEM NUNCA TÊ-LAS VISTO. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/epec/a/Mcgvk9wCRBw5jHMTjxPMWgs/?format=html

 

Informações sobre o Feelipa Color Code:

Feelipa Color Code: um sistema para deficientes visuais “enxergarem” cores

Feelipa para Deficientes Visuais | Feelipa Color Code

 

Informações sobre o See Color

See Color, Linguagem Tátil das Cores para cegos e deficientes visuais (terra.com.br)

Código tátil permite que deficientes visuais identifiquem cores - YouTube