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Fundação da nossa primeira organização estudantil foi no dia 5 de abril

Estudo realizado pelo professor Luciano Candeia revela momentos do movimento estudantil desde a década de 60
por publicado: 05/04/2017 14h50 última modificação: 05/04/2017 14h52

No princípio era o DETI e o DETI continha vozes que deram início ao movimento estudantil organizado no Instituto Federal da Paraíba. Vozes impregnadas pelos ideais de Che Guevara, pelo sonho de Martin Luther King e das mulheres que comemoravam a conquista de estudar na Escola Industrial Coriolano de Medeiros. Vozes dissimuladas que pairavam no ar, ora reverberadas pelos corredores, ora ecoadas pelas salas de aula, pelos laboratórios e até no pátio da instituição com gostinho de mobilização para combater ideias conservadoras.

Calma, este não é o que parece à primeira vista: uma sinopse de um filme retratando a organização do movimento estudantil. Trata-se da estratificação de uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Documentação e Pesquisa da Educação Profissional (NDPEP) capitaneada pelo professor, historiador e pesquisador Luciano Candeia em comemoração ao dia em que jovens estudantes da década de 1960 decidiram unir-se por um só ideal: cultivar o sonho da liberdade plantando uma semente denominada de Diretório Estudantil Técnico Industrial (DETI) que germinou originando a entidade apelidada de Gretec (Grêmio Estudantil).

Portanto, neste dia 05 de abril, os atuais estudantes e os egressos do Instituto Federal da Paraíba têm muito o que comemorar, pois é a data de fundação da nossa primeira organização estudantil. É o que revela preciosa pesquisa disponível ao grande público no Núcleo de Documentação e Pesquisa da Educação Profissional (NDPEP), localizado no Edifício Coriolano de Medeiros, prédio sede da Reitoria do IFPB.

Sabe-se que as informações sobre o Movimento Estudantil no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) são ainda escassas. Apesar de ser uma instituição centenária, somente nos últimos anos uma política consistente de preservação da memória institucional foi efetivamente levada a cabo pela atual gestão do reitor Nicácio Lopes, com a organização do Núcleo de Documentação e Pesquisa da Educação Profissional. A documentação disponível sobre o assunto, “guardada” durante décadas pelos estudantes, hoje encontra-se devidamente organizada e sob a guarda do NDPEP.

Para guiá-lo na leitura minuciosa do conteúdo denso dessa pesquisa, Luciano Candeia sugere o seguinte roteiro:

O Diretório Estudantil Técnico Industrial (DETI) foi fundado em 1961, na Gestão do Diretor Executivo José Jurema de Carvalho. Seus primeiros presidentes, até 1966:1 – José Victor Soares, 01/05/1961 a 01/05/1962; 2 - Vicente de Paula Costa, 01/05/1962 a 23/09/1965; 3 – João Pereira do Rêgo, 23/09/1963 a 30/09/1964; 4 - José Antônio de Macêdo, 30/09/1964 a 10/11/1964; 5 – Antônio Colaço de Medeiros, 10/11/1964 a 14/04/1965; 6 –Mário de Almeida Tourinho, 14/04/1965 a 30/10/1965; 7 – Flamarion Rodrigues da Silva, 30/10/1965 a 20/08/1966 e 8 – Heronides Paiva de Vasconcelos, 30/08/1966 a 05/11/1966. Em 1961, o nome da Instituição era Escola Industrial Coriolano de Medeiros.

IDENTIDADE ESTUDANTIL VERSO - Cópia.jpgEm 1963, o Movimento Estudantil parecia bem ativo na Instituição, Escola Industrial Coriolano de Medeiros. Os estudantes tomaram parte das atividades políticas que resultaram na saída do então Diretor José Jurema de Carvalho e intervenção administrativa na Escola. Fizeram inclusive uma greve, possivelmente a primeira (talvez a única) greve dos alunos na Instituição. O objetivo era a renúncia do diretor. Participaram das atividades líderes estudantis, dentre eles Livino Lopes do Nascimento (Coordenador Geral dos Secretários executivos da UNETI – União Nacional dos Estudantes Técnicos Industriais – no Nordeste, sediada em Recife), Vicente de Paula Costa (Presidente do Diretório Estudantil e Técnico Industrial) e Osni Paes de Carvalho Rocha (Coordenador da UNETI no estado da Paraíba), todos estudantes do 3º ano do Curso Técnico de Máquinas e Motores. Os estudantes garantiram ao Comandante do Grupamento de Engenharia “que nenhuma depredação seria feita contra a instituição que é também deles”.

Em 1967, o DETI muda para Grêmio Técnico Estudantil - GRETE. Sua primeira Diretoria era formada por: Presidente: José Donato de Sousa (até 30 de dezembro); Vice-Diretor em exercício: Edson de Carvalho Costa – em mar. 67; Tesoureiro: Antonio Pereira dos Santos; Diretor Cultural: Novaldo Eugênio Rodrigues; Diretor de Esportes: José Eduardo de Santana; Adjunto de Esportes: Ronaldo de Castro; Secretário: Givaldo Maia de Moura.

Depois do Golpe Militar de 1964: “Com a edição do AI-5 – Ato Institucional n.º 5 em 13 de dezembro de 1968, o Congresso Nacional é fechado, e há um aumento da repressão e da censura. Com a configuração deste quadro os estudantes se mobilizam e partem para a luta armada. Assim como a UNE, a UBES, os Grêmios Estudantis foram fechados e as escolas passam a contar com o CCE - Centro Cívico Escolar, que apenas burocraticamente representava os estudantes dentro e fora da unidade escolar.” (GONÇALVES, T.; ROMAGNOLI L. H. A volta da UNE – de Ibiúna à Salvador. São Paulo: Alfa-Ômega, 1976).

Em 1971, foram fundados os Centros Cívicos.  "Órgão criado a partir do decreto (68.065/71 de 14 de janeiro) que estimulava a criação de instituições que promovessem atividades extraclasses, com o intuito de desenvolver uma nova perspectiva de nação, locais nos quais o jovem pudesse entender e adquirir os novos hábitos jurídicos, disciplinares, comunitários, manualistas, artísticos, assistenciais e de recreações. Dando a visão de que a escola deveria representar uma sociedade em miniatura, em todas as suas características.”

Em 1972, foi marcado como o ano da transição de Grêmio Estudantil para Centro Cívico. Em 1976, o Presidente do Centro Cívico Coriolano de Medeiros era Hostílio Ramalho Nitão Filho (hoje empresário na cidade). Na sua Diretoria ainda tinha: (Vice, Rosangela Pimenta Barbosa; 1º. Secretário, Adriano Pessoa Neto e 2º. Secretário, Domênica de Medeiros Magliano).

Em 2009, o autor da pesquisa, professor Luciano Candeia, conseguiu um depoimento de Hostílio: “Com a extinção dos grêmios estudantis pela Ditadura, ainda no final dos anos sessenta, veio a criação dos Centros Cívicos. Estes iriam substituir os grêmios, sempre com o controle do governo, pois em sua composição havia dois professores que dariam o “apoio à entidade”. Mas, com Professora Concita e a professora Hilka no controle deixando parecer que nós dominávamos a situação, mas no fundo elas davam o rumo da entidade. Montamos a chapa, com o slogan “leve amor ao centro cívico”. Na verdade, estávamos tentando namorar umas irmãs, eu e o Adriano, e acabamos eleitos com a ajuda delas. Disputamos contra a chapa do hoje quadrinista Emir [Lima] Ribeiro. (Depoimento de Hostílio, escrito e datado de 2009).

Em 1985, aconteceu a abertura política: Lei dos Grêmios. “A Lei Nº 7.398, de novembro de 1985 - Dispõe sobre a organização de entidades estudantis de 1º e 2º graus e assegura aos estudantes o direito de se organizar em Grêmios”. Leia na íntegra cópia do Ato presidencial clicando aqui.

Já no ano de 1986, o GRETEC foi fundado depois que alguns alunos participaram do XXV Congresso da UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas em Juiz de Fora, MG. Em 1987, primeira Diretoria do GRETEC. Para acessar cópia do documento oficial de nomeação da primeira diretoria do Grêmio 10 de Outubro clique aqui.

Vale a pena conferir essa pesquisa e dentre outros documentos singulares da memória institucional do IFPB, visitando as novas instalações do Núcleo de Documentação e Pesquisa da Educação Profissional (NDPEP). São duas salas repletas de vídeos, uniformes, bandeiras, troféus, equipamentos, documentos e peças que testemunham sobre o IFPB desde os tempos de Escola de Aprendizes e Artífices da Paraíba.

Também podem ser apreciados no local objetos e painéis que guiam o visitante em um incursão pela gloriosa história do Instituto Federal da Paraíba.  O NDPEP está desafiado pelos novos tempos. O professor Luciano Candeia e equipe estão dando início a restauração de fotos e imagens em parceria com a Diretoria de Educação a Distância e Projetos Especiais (Deadpe). Portanto, não hesite em visitar o Núcleo de Documentação e Pesquisa da Educação Profissional.

Filipe Donner - diretor geral de Comunicação e Marketing