II Mostra de Cultura Afro-Brasileira Local

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Evento teve debates, homenagens e celebração da ancestralidade

O IFPB Campus Santa Luzia realizou, nos dias 17, 18 e 19 de novembro, a II Mostra de Cultura Afro-Brasileira Local, reunindo estudantes, quilombolas, pesquisadores, artistas e lideranças comunitárias para discutir políticas afirmativas, celebrar tradições ancestrais e fortalecer a identidade negra na região.

A programação contou com rodas de conversa, mesas-redondas, oficinas artísticas, apresentações culturais, exposições e homenagens a personalidades negras que contribuem para a preservação da memória e da resistência afro-brasileira.

A abertura foi marcada pela roda de conversa “O Papel da Conferência de Durban nas Políticas Afirmativas para Negros e Quilombolas”, conduzida por Joselito Eulâmpio. Ele destacou que “questionar cotas é esquecer mais de 300 anos de escravidão”, lembrando que a Conferência de Durban, promovida pela ONU em 2001, representou um marco no enfrentamento ao racismo e na consolidação das ações afirmativas no Brasil. Joselito ressaltou ainda que a pesquisa histórica evidencia a presença de escravizados na região e que a reparação é um dever histórico incontornável.

A roda de conversa trouxe relatos importantes. Deyseane afirmou que “o primeiro encontro que todo negro tem na vida é com o racismo e o segundo é com a negritude”, relembrando episódios de discriminação vividos na infância e reforçando que a negritude é fonte de força e não de peso.

Joez refletiu sobre a diversidade da identidade negra no Brasil: “O negro não é só o preto, é também o pardo, aquele que carrega sua herança. É o povo preto que constrói a história deste país”. Ele ressaltou a importância de eventos como a Mostra para resgatar a autoestima e a valorização do legado afro-brasileiro.

O diretor-geral do Campus, Jerônimo Nóbrega, destacou que as cotas representam “reparação histórica” e reafirmou que o IFPB é um espaço de transformação social que precisa garantir inclusão e vigilância para que direitos não retrocedam.

O segundo dia foi marcado por práticas culturais e momentos de escuta. “Um momento de aprendizado e fortalecimento da cultura afro-brasileira”, destacou Tatiele.

A Mostra Cultural apresentou o trabalho da Associação de Artesãos e Artesãs Quilombolas da Pitombeira, ligada à memória da centenária Mãe Geraldina Máxima, referência no trançado em palha de carnaúba.

Durante a Mesa de Homenagens, Geraldina Máxima recebeu o Troféu Resistência Cultural, ao lado da presidente da associação, Leonia Medeiros, e do babalorixá e juremeiro Elton Medeiros. A presença da Banda Cabaçal e da Irmandade do Rosário (com 154 anos de história) reforçou a força da tradição afro-brasileira na região.

A Mostra contou com oficinas que resgataram saberes ancestrais e linguagens contemporâneas, como tranças e turbantes africanos, pintura corporal afro-brasileira, samba, capoeira, culinária tradicional, artesanato em barro e palha de carnaúba.

Um dos momentos mais marcantes foi o Desfile Afro, que apresentou os resultados das oficinas de pintura corporal e tranças. A performance representou ancestralidade, espiritualidade e resistência, reforçando a autoestima da comunidade estudantil e celebrando a beleza da negritude.

O coordenador do evento, Joselito Eulâmpio, finalizou a Mostra com uma mensagem de profundo reconhecimento: “Quero agradecer pelo empenho e participação de vocês no evento ‘Novembro Negro: II Mostra de Cultura Afro-Brasileira Local’. O evento foi lindo e todas as atividades foram realizadas com êxito. Ninguém faz um evento sozinho, e se tudo aconteceu como aconteceu é porque forças, energias, vontades e ações se entrelaçaram em um só objetivo. Nosso objetivo foi alcançado não apenas por força de lei, mas porque somos uma casa de educação, e a humanização se faz cada vez mais necessária em nosso meio. Estamos em pleno século XXI e, depois de mais de três séculos de escravidão, exclusão e apagamento histórico no Brasil, não há mais espaço para isso. Por essa razão, nosso evento se tornou resistência em cada ação e cada ator social presente. Não vou citar nomes para não cometer injustiças, mas agradeço a   cada um e cada uma que contribuiu direta ou indiretamente. Somos resistência a qualquer forma de opressão. É tempo de liberdade e reconhecimento daquilo que nos une: o amor ao próximo. Ser humano é reconhecer sua identidade a partir da alteridade, respeitando as diferenças e não promovendo a invisibilidade do outro, porque ‘alma não tem cor’. Viva o IFPB-SL, o Neabí-SL e a Cultura Afro-Brasileira, que segue viva e pujante.”