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“Ser professora é ter esse jeito de conviver com as diferenças”, relata docente de Licenciatura em Química

Coordenadora do curso se une a colega de profissão e recém-formada para falar sobre a virtude de ensinar
por publicado: 17/10/2017 18h10 última modificação: 17/10/2017 18h22

Semear o conhecimento adquirido durante toda a carreira para formar profissionais é um desafio. Dividir esses saberes com aqueles que também irão exercer a virtude de ensinar torna esse desafio ainda maior. O curso de Licenciatura em Química do IFPB, em memória ao Dia do Professor e no lançamento a Semana da Química com o lema Educação e Cidadania, reflete estas características no seu corpo docente, preocupado em moldar futuros educadores que irão contribuir socialmente com a vida das pessoas.

É o que conta Suely Carneiro, coordenadora da graduação. “No contexto político e econômico conturbado que estamos vivendo, refletindo diretamente no ensino público, a criatividade dos professores se torna fundamental. Já tivemos propostas de reaproveitamento da água utilizada em destiladores, do óleo de cozinha para a confecção de sabão ecológico, além da construção de equipamentos de laboratório a partir de materiais recicláveis, entre outras. Estamos preparando pessoas pra exercer o papel de cidadãs”, enfatiza.

Nas disciplinas de Laboratório de Materiais Alternativos, os alunos foram estimulados a criar equipamentos através de itens que seriam descartados, beneficiando o meio ambiente e contando com o apoio do curso de Engenharia Elétrica em alguns procedimentos. Dois exemplos são uma centrífuga derivada de um motor de liquidificador, e uma Câmara UV construída com madeira, lâmpada UV e janela de vidro. Depois de prontos, todos esses instrumentos foram doados ao Instituto.

Um dos docentes responsáveis pelo estímulo, Emanoel Almeida, disse que o intuito maior do projeto é formar professores autônomos e cientes de suas potencialidades: “Se um egresso chega a uma escola e não encontra laboratório para dar aulas práticas, ele pode buscar alternativas a partir da reutilização de materiais. Tendo adquirido essa habilidade no curso, ele vai ser capaz de reproduzi-la, muitas vezes até melhor que antes.”

Ao iniciar a bolsa do PIBID no Instituto de Educação da Paraíba (IEP) como assistente de professora, quatro anos atrás, a recém-formada em Licenciatura em Química, Jessica Aguiar, detectou essa ausência de infraestrutura no local de trabalho, mas resolveu o empecilho trilhando outro caminho. “Quando entrei no IEP, o maior problema era o domínio de sala. Fiz um brainstorm com alunos, e junto com eles fomos listando os fatores que estavam ocasionando o desinteresse. A falta de experimentação e ambiente somavam 70% das queixas”, explica.

Com o esmero das aulas e o cuidado no acompanhamento dos alunos do ensino médio, Jessica conseguiu um contrato com a escola, além de chamar a atenção do governo para a precariedade do laboratório sucateado. Após a captação dos recursos, o ambiente foi revitalizado. “Depois que começamos a aplicar aulas experimentais e contextualizadas, no laboratório novo, o interesse dos alunos aumentou, e consequentemente, o desempenho de cada um. Agora ficou bem mais fácil pra eles entender as aulas. Posso explicar melhor, por exemplo, a diferença entre misturas homogêneas e heterogêneas”, lembrou a professora.

Trajetória

“Assim que ingressei em Licenciatura em Química, em 2010.2, peguei uma greve de três meses, e mais duas de um mês e meio algum tempo depois. Isso, além do fato de o curso não ser, na época, aquilo que eu sonhava, me desestimulou muito a continuar”. Jessica pensou em desistir várias vezes da graduação, mas sempre foi convencida a persistir por professores que enxergavam suas apitdões, inclusive Suely. Hoje, após sete anos entre idas e vindas, com o trabalho se mostrando bem sucedido, ela fecha um ciclo no IFPB com o sentimento de gratidão.

A nova professora mensura a rotina como muito dinâmica, para atrair o interesse dos estudantes, e bastante difícil, devido ao descaso com a educação pública. “A gente passa por muita coisa em sala. Chega a pensar que não quer mais. Teve uma vez minha carteira caiu durante a aula, e eu não senti, só percebi depois que liberei a turma. Alguém tinha achado e decidido ficar com ela - o que me deixou muito triste, mas aí eu pensei: ‘Não vou desistir deles, porque se eu o fizer, isso pode acontecer com outros professores’. No outro dia, conversei com a turma, e quem pegou a minha carteira, veio ao final da aula, me entregou e pediu desculpas. Até hoje, a pessoa tá lá comigo. Se você voltar três anos, vai ver o quanto ela mudou. O rendimento da turma cresceu. Eu percebi que queria ajudar as pessoas.”

Dentre as inspirações de Jessica estão Fátima Vilar, Jorge Gonçalo, Carlos Alberto, o ex-docente do IFPB Fausto Fred e a coordenadora Suely Carneiro: “São profissionais de excelência, me espelho neles até hoje. Suely foi uma mãe pra mim.” Esta homenageada, por sua vez, tenta expressar um pouco do papel do discente na construção da força motora do professor: “Os alunos são peça fundamental na existência do curso. Muitos deles entram com vontade de trabalhar com praticas de laboratório. Aliás, é o primeiro local que eles querem conhecer quando chegam. Têm o maior prazer de participar de extensões, do PIBID, de contribuir com a sociedade... Depois que saem, vêm aqui nos contar que estão bem. É uma satisfação imensa para a gente. Esse é o nosso retorno: ver o diferencial do aluno lá fora.”

O que é ser professor?

“Não tem como a gente divorciar o ofício do professor com uma vocação. Não são todos que conseguem. A gente trabalha com dedicação, inventa coisas novas se não tiver recurso. Não é por dinheiro. É por puro amor mesmo. Eu mesma não queria ser professora nunca na vida. Primeiro porque o meu pai já desaprovava: ‘Olhe, a ultima profissão que você deve ser na vida é professora’. Eu estudei Farmácia, Bioquímica, Engenharia, mas acabei aqui, Licenciada em Química. Entendi que ser professora é ter esse jeito de conviver com as diferenças. 30 pessoas numa sala de aula ou mais. 30 cabeças diferentes pra lidar. Alunos de todos os tipos, às vezes querem até botar processo em você (risos), falam de você, mas no outro dia, parece que nada aconteceu. O professor muitas vezes exerce até o papel de psicólogo, de pai e de mãe, que entende o aluno e a situação pela qual ele está passando. Como o caso de Jessica, que queria desistir, e a gente orientou a não fazer isso. Argumentamos de todos os jeitos. E deu certo. Então, se não for uma vocação, eu não sei realmente o que é”, arremata Suely, personificando, naquele momento, cada pessoa que passou pelos nossos caminhos e teve a hombridade de nos ceder saberes e experiências de vida, com o mesmo dom de compartilhar.

 

Comunicação Social do campus João Pessoa

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