Você está aqui: Página Inicial > Notícias > 2021 > 03 > Crescimento da participação feminina em produção de softwares ainda é um desafio

Noticia

Crescimento da participação feminina em produção de softwares ainda é um desafio

Pesquisa desenvolvida pelo IFPB mostra que são necessárias medidas assertivas para inclusão e permanência das mulheres em cursos na área de tecnologia
por Patrícia Nogueira publicado: 09/03/2021 09h00 última modificação: 10/03/2021 17h18

A participação das mulheres na pesquisa científica vem crescendo nos últimos anos, mas ainda há muitos desafios para serem enfrentados. Na área de produção de software, por exemplo, a participação feminina, sobretudo como autoras, ainda é pequena.

Uma pesquisa realizada pelo IFPB fez um levantamento de aproximadamente 6.000 registros de programas de computador, catalogados nos últimos três anos na Revista da Propriedade Industrial do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e demonstrou que quando tratamos de programas com múltiplos autores, temos aproximadamente 26% de trabalhos com alguma participação feminina. Apenas 3,4% dos programas possuem exclusivamente mulheres como autoras.

“A adoção de medidas assertivas para inclusão e permanência das mulheres em cursos da área de tecnologia da informação parece-nos a mais viável e exequível a curto prazo”, revela o Coordenador da pesquisa, professor Dr. João Ricardo Freire de Melo, docente do Curso de Mestrado em Propriedade Intelectual (PROFNIT) do IFPB.

“De acordo com nossa hipótese inicial, verificou-se que, de fato, essa situação reproduz a realidade brasileira de sub-prof joao.jpgrepresentação feminina em espaços de influência nas ciências, na política e em outras esferas da sociedade. Como já relatado em outros trabalhos, há um bloqueio invisível que impede que elas alcancem cargos de poder, resultando na permanência masculina nestas posições”, disse o professor João Ricardo, que complementa que devem ser adotadas políticas sociais para favorecer a equidade de gêneros no cenário brasileiro e global. “A ciência é melhor quando existe uma diversidade”.

A estudante Yedda Alexandra Freire de Albuquerque Prazeres, aluna do mestrado Profissional em Propriedade Intelectual – PROFNIT, no Campus Campina Grande e Joyce da Silva Pinheiro, Graduanda do Curso de Tecnologia em Sistemas para Internet, Campus Guarabira integram o grupo responsável pela pesquisa.

“De forma geral, eu entendo que essa desigualdade de gênero, é uma consequência da sociedade patriarcal que aindaestudante mestranda Yedda.jpg perdura.  E essa desigualdade reverbera em todas ás áreas. Neste caso específico, acredito que esses números são um reflexo da baixa participação das mulheres nos campos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática”, explicou a mestranda Yedda Prazeres.

De acordo com os dados da pesquisa, no âmbito do IFPB, no período de 2018 a 2020, foram encontrados um total de 36 registros. Desse total não foi observado nenhum software de autoria exclusivamente feminina, no entanto aproximadamente 42% dos registros tem pelo menos uma mulher como autora.

“Acho que o desenvolvimento de políticas públicas que tenham como prioridade a promoção de mulheres nas ciências é um bom primeiro passo para tentar diminuir essa diferença”, pontuou Yedda.

estudante Joyce.jpgA estudante Joyce Pinheiro, que concluiu o Técnico em Informática e agora cursa o superior de Sistemas para Internet, lembra que muitas pessoas não a incentivaram a seguir a área: “Tive que ouvir de um professor de curso de programação do Youtube que mulheres não têm lógica avançada para a área, desencorajando totalmente a estudante que eu era em 2017. Essas pessoas deveriam pensar nos impactos de suas palavras contra as minorias. Depois disso, eu busquei ensinar o máximo de mulheres a aprenderem programação. Hoje eu espero que elas ocupem bem os seus espaços”, afirmou.

Ambas concordam que é necessário mais incentivo. “É preciso que se mostre à mulher que a tecnologia precisa de uma visão de mundo como a nossa, que a área tem muitas vagas para bons profissionais e que parte dessas tem que ser ocupada dessa forma. Talvez divulgando mais, desafiando elas a pensarem mais, ensinando sobre e dando a oportunidade de melhora a quem já está na área”, concluiu a estudante Joyce.

A pesquisa, oriunda da Chamada Interconecta IFPB - nº 20/2020, concluiu a fase da coleta de dados e está fazendo as análises para posteriormente publicar em formato de artigo científico.