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A audiodescrição e o uso dos seus princípios nas descrições informais

Esta edição do Fique por Dentro traz informações sobre a Audiodescrição, alguns princípios da AD que podem ser aplicados no dia a dia e possibilidades de adotá-los na escola.
publicado: 20/07/2021 09h39 última modificação: 20/07/2021 09h39

Se você já ouviu falar em audiodescrição  (AD), talvez  saiba que é um recurso que torna filmes e peças de teatro acessíveis para pessoas com deficiência visual por meio da tradução das imagens em palavras. Mas será que a AD só é usada para esse público e nesses contextos? Ou pode aparecer em livros ou na sala de aula? 

                Esta edição do Fique por Dentro traz informações sobre a Audiodescrição, alguns princípios da AD que podem ser aplicados no dia a dia e possibilidades de adotá-los na escola.

Conhecendo a audiodescrição

                Em linhas gerais, a audiodescrição traduz imagens em palavras para que pessoas cegas e com baixa visão possam ter acesso ao seu conteúdo (Franco e Silva, 2010, p. 23). O recurso também amplia o entendimento de pessoas com deficiência intelectual, com TDAH, autistas, disléxicos, idosos e outras pessoas sem deficiência (Motta, 2016, p. 2).

Qual a importância da audiodescrição para as pessoas com deficiência visual?

                Na falta da visão, as imagens mentais são construídas através de outras pistas, mas sem a audiodescrição, faltam muitas informações. As imagens enfeitam, reforçam ou compõem a informação. Já parou para pensar como elas atuam em novelas, anúncios, aulas, etc.?  E nos materiais impressos e digitais? Imagine algumas situações sem imagens. Dá para saber tudo que aparece em um filme? Como saber o que aparece em vídeos em que a narrativa é predominantemente construída por imagens, ou na foto na rede social comentada por todo mundo como “lindo, legal”? Assim, a AD amplia o entendimento dos produtos com imagens, o acesso à informação e proporciona inclusão. (cf. Queiroz, 2010).

Produção da audiodescrição

                A audiodescrição pode ser pré-gravada, ao vivo ou simultânea, neste último caso quando se tratar de eventos que não têm roteiro, como palestras, lives, aulas, etc. Mas, mesmo para as ADs simultâneas, o audiodescritor deve receber antes informações sobre o evento para poder se familiarizar e pesquisar mais informações, a fim de produzir uma AD com qualidade.

                A produção da audiodescrição exige pesquisa sobre o produto a ser audiodescrito, técnica e conhecimentos específicos. Por isso, é feita por profissionais com formação na área.  A equipe que realiza a AD é formada por:

  • um audiodescritor roteirista, que traduz as imagens em palavras e indica os pontos onde a audiodescrição será inserida;
  • um audiodescritor narrador, que faz a locução  do texto da AD;
  • um audiodescritor consultor, pessoa cega ou com baixa visão com formação na área, que participa de todo o processo, inclusive da construção do roteiro, avalia a clareza das informações e a qualidade da AD, propõe ajustes no roteiro e na locução;
  • técnico de áudio: que faz a mixagem da audiodescrição com o áudio original da obra, normalmente quando a AD é pré-gravada.

                A AD pode ser adotada em vários contextos, como cinema, teatro, mostras, aulas, livros, sites, etc., tornando acessíveis imagens dinâmicas e estáticas (Motta, op. cit., p. 3). 

Audiodescrição de imagens dinâmicas: inserida por meio de falas adicionais entre as falas originais.

Audiodescrição de imagens estáticas: inserida no corpo do texto impresso, gravada ou lida ao vivo. Na WEB e em arquivos digitais, pode ser inserida na legenda, na caixa de texto alternativo, no corpo do texto, (Salton et. Al, 2017, p. 43) em links que leva a outra página e em QR cods.

                A audiodescrição é uma atividade profissional e as condições para realizá-la, como a equipe profissional incluindo o audiodescritor consultor,  não  estão presentes em  algumas situações, como na hora de enviar uma foto pelo Whatsapp diretamente do conforto do próprio lar. Mas nesses casos os princípios da AD podem ser usados para fazer informalmente descrições para aquele colega/amigo/aluno/familiar cego ou com baixa visão. Assim, abaixo vão algumas dicas para fazer essas descrições, mas veja que as dicas não são engessadas. Alguma orientação pode variar, dependendo, por exemplo, da captação da imagem ou da intenção de quem a produziu. As informações e dicas deste texto foram sintetizadas a partir de CTA-IFRS (2020), Sá Et. Al (2020), Nascimento (2017, Motta (op. cit.), Mianes (2016), Brasil (2012), Motta e Romeu Filho (2010). Este texto não é um manual. Você deve ler as referências e buscar outras informações. Para ser um audiodescritor, deve buscar formação.

Dicas para fazer descrições baseadas em diretrizes da audiodescrição

  • Descrever o que vê: o que/quem aparece, onde, as ações, o tempo, o enquadramento, características físicas, roupas, cores e outros elementos visuais;
  • Organizar a descrição do geral para o específico, da esquerda para a direita, de cima para baixo;
  • Descrever cada pessoa/personagem por vez;
  • Priorizar os elementos mais importantes, de acordo com o contexto;
  • Não dar sua opinião;
  • Não interpretar as imagens, mas dar as informações para que a pessoa interprete;
  • Usar linguagem clara e objetiva, adequada ao público-alvo;
  • Além disso, nas imagens estáticas, iniciar informando o tipo da imagem (card de, flier de, fotografia de, infográfico de, tabela de, etc.) e não usar verbos em movimento;
  • Deve-se entender a obra e o contexto para escolher as informações e  as palavras adequadas.

(Sá, et. al. 2020, CTA-IFRS, 2020, Nascimento, 2017, Brasil, 2012 ).

Descrição em algumas imagens e espaços

  • Tirinhas/quadrinhos: deve-se informar título, fonte, data, autor, quantidade de quadrinhos, numerar e descrever cada um, descrever os personagens, emoções, símbolos visuais, palavras que representam sons e seus significados, falas e palavras destacadas;
  • Palestras e eventos: deve-se descrever a organização do ambiente e dos objetos, indicar cada pessoa que fala, descrever todos os materiais exibidos;
  • Museus: todas as obras de arte, vídeos e demais elementos com imagens devem ser descritos;
  • Sites: as imagens com conteúdo ou que indiquem alguma ação devem ser lidas pelos leitores de tela;
  • Redes sociais: A descrição deve permitir o entendimento da imagem, não trazer características físicas e de vestuário se for ficar longa e pode manter o tom cômico se não confundir o usuário. A AD na legenda deve iniciar com alguma rashtag como #pratodosverem e será lida por todas as pessoas. Pode também estar no texto alternativo (Sá et. al., 2020, Nascimento, 2017, Motta, op. cit.).

Na escola

                As descrições devem ser adotadas nas diversas atividades e espaços. Com base em Motta, op. Cit, algumas sugestões são:

  • Descrever a organização dos móveis, dos objetos de uso comum, a planta baixa da escola, etc;
  • Descrever palestras, feiras de ciências, mostras, apresentações, reuniões, excursões, aulas de reforço, encontros pedagógicos, jogos escolares, filmes e demais atividades   escolares.

Professores e profissionais que atuam no atendimento a estudantes com deficiência podem fazer as descrições para a sala de aula juntos. As dicas a seguir foram sintetizadas com base nos autores anteriormente citados. Algumas propostas para materiais didáticos e provas pareciam ser as já trazidas anteriormente e por isso não serão repetidas adiante.

  • Nas aulas, o professor deve descrever cada imagem importante para o entendimento do conteúdo, em vídeo ou estática, em livros, slides, no quadro, etc, além das atividades fora da sala de aula;
  • Ao fazer descrições prévias, deve avaliar se a descrição permite compreender a informação;
  • Trazer filmes com AD. Se todos não puderem assistir juntos, enviar antes para o aluno com deficiência;
  • Mianes (op. cit. sugere o trabalho das descrições nas aulas de línguas, descrição de desenhos no quadro, comparação a formas concretas, agrupamento de dados e informações nas disciplinas de exatas, associação das descrições dos materiais didáticos a descrições orais, analogias com elementos concretos, junção de descrições ao uso de materiais concretos nas ciências naturais, descrição de movimentos em atividades que adotem movimentos do corpo.

Descrições em materiais e livros didáticos

Associar dicas das seções anteriores às seguintes:

  • Se necessário, produzir notas com informações introdutórias, como tema e propriedades da imagem;
  • Apresentar, nessa ordem, fonte, legenda e descrição;
  • Descrever imagens de fundo, bordas coloridas, caixas de texto, detalhes da parte de baixo da página (Cf. Nascimento, op. cit.).
  • Atentar para a adequação de contrastes, tipo e tamanho da fonte, espaçamento, etc. Para tornar materiais didáticos acessíveis aos alunos com baixa visão. A acessibilidade em materiais impressos e digitais para esse público deve ser abordada em postagens posteriores.

Audiodescrição em provas

  • Escolher as informações sempre em função da resposta à prova e do pouco tempo disponível;
  • Nas imagens associadas a texto, descrever aspectos como a posição das imagens, os textos, destaques, logos, etc., quando relevantes;
  • Descrever o formato de infográficos quando importante para a questão. Todos os dados devem ser informados para não influenciar a resposta, unidos em texto corrido ou em lista;
  • Nas obras de arte, informar o nome da obra e do artista, descrever o que está representado e de que forma, as impressões trazidas, os aspectos principais, os materiais utilizados, se for uma escultura, o movimento artístico a que pertence, se não for a resposta;
  • Descrever mapas complexos em texto ou representá-los em relevo, conforme a complexidade e as possibilidades. Descrever locais que delimitam áreas coloridas, áreas destacadas, caminhos traçados por linhas (CTA-IFRS, op. cit.).

 

Referências:

Boas práticas para a descrição de imagens. Centro Tecnológico de Acessibilidade do IFRS. Disponível em: https://cta.ifrs.edu.br/boas-praticas-para-descricao-de-imagens/

BRASIL. Nota Técnica nº 21, 10 de abril de 2012/MEC/SECADI/DPEE. Orientações para descrição de imagem na geração de material digital. Acessível ­Mecdaisy. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=downl%20oad&alias=10538-nota-tecnica-21-mecdaisy-pdf&category_slug=abril-2012-pdf&Itemid=30192.%20Acesso%20em%2001/09/2016.

Centro Tecnológico de Acessibilidade do IFRS. Manual de descrição de imagens em questões de provas. 2020.  Disponível em:  https://drive.google.com/file/d/15KiNFqq3s_bQaUz4Tj_rcmBfLu5aip0i/view

Comunicação acessível para pessoas com deficiência visual nas redes sociais. Instituto Federal da Paraíba. Disponível em: https://www.ifpb.edu.br/assuntos/fique-por-dentro/comunicacao-acessivel-para-pessoas-com-deficiencia-

FRANCO, Eliana Paes Cardoso; SILVA, Manoela Cris na Correia Carvalho. Audiodescrição:

 Breve passeio histórico. In: MOTTA, Lívia Maria Villela de Melo; ROMEU FILHO, Paulo. (Orgs.).                    Audiodescrição: transformando imagens em palavras. São Paulo:                   Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, 2010.

MOTTA, Lívia Maria Vilella de Mello. A AUDIODESCRIÇÃO NA ESCOLA: ABRINDO CAMINHOS PARA LEITURA DE MUNDO. 2016. Disponível em: http://www.vercompalavras.com.br/pdf/a-audiodescricao-na-escola.pdf

MIANES, Felipe Leão. Audiodescrição como ferramenta pedagógica de ensino e aprendizagem. 2016. Disponível em: http://www.anpedsul2016.ufpr.br/portal/wp-content/uploads/2015/11/EIXO6_FELIPE-LE%C3%83O-MIANES.pdf.

MOTTA, Lívia Maria Vilella de Mello; ROMEU FILHO, Paulo (org). Audiodescrição ­ transformando imagens em Palavras. São Paulo: Secretaria dos Direitos das Pessoas com Deficiência do Estado de São Paulo. 2010.

NASCIMENTO, Lindiane Faria do. A AUDIODESCRIÇÃO COMO TECNOLOGIA EM LIVRO DIDÁTICO: UM GUIA DE ORIENTAÇÃO AOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA. 2017. Disponível em: https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/207042/2/Guia_Audiodescricao_Lindi.pdf

QUEIROZ, Marco Antônio. Prefácio. In MOTTA, Lívia Maria Vilella de Mello; ROMEU FILHO, Paulo (org). Audiodescrição ­ transformando imagens em Palavras. São Paulo: Secretaria dos Direitos das Pessoas com Deficiência do Estado de São Paulo. 2010.

SÁ, Luana Rodrigues da Silva. HUBERT, Lídia. NUNES, Jader de Sousa. Módulo 4 - Audiodescrição em livros e publicações curtas. Introdução à Audiodescrição. Fundação Escola Nacional de Administração Pública (Enap). 2020. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/5299

SALTON, Bruna Poletto; AGNOL, Anderson Dall; TURCATTI Alissa. Manual de Acessibilidade em Documentos Digitais. ­ Bento Gonçalves, RS: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, 2017.