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Diferentes identidades entre os sujeitos surdos

No dia nacional do surdo, o Fique por Dentro celebra a data buscando trazer mais conhecimento sobre a realidade das pessoas surdas, abordando a identidade surda
publicado: 26/09/2019 14h12 última modificação: 26/09/2019 14h12

As pessoas surdas têm em comum muitas características, que vão além da especificidade biológica e abarcam experiências sociais. Porém, entre elas, há diferenças quanto à visão da surdez e delas mesmas nesse contexto. Dito de outro modo, sujeitos inseridos na realidade da surdez apresentam identidades heterogêneas. Saber mais sobre essas diferenças pode ajudar a compreender a diversidade de posturas entre pessoas surdas ante as situações cotidianas e os apoios ofertados.

No dia nacional do surdo, o Fique por Dentro celebra a data buscando trazer mais conhecimento sobre a realidade das pessoas surdas, abordando a identidade surda.

A identidade surda

Em linhas gerais, ao se fazer referência à identidades surdas, faz-se referência aos modos de pessoas surdas compreenderem a surdez e a si próprias nesse contexto, concepções que impactam sua postura e comportamento. A identidade surda é heterogênea, havendo desde os surdos que se posicionam politicamente em favor dos direitos dos surdos e que vivem e valorizam a cultura surda até os que se comportam de modo a tentar se apropriar da cultura ouvinte e vivenciá-la no seu modo de participar do meio. A grafia pode sugerir essa diferença. Usualmente, a literatura emprega “surdo” para se referir à toda a coletividade composta por pessoas com a especificidade biológica que caracteriza a surdez e “Surdo” para denotar os sujeitos que, para além da especificidade, se reconhecem como pertencentes à comunidade surda, se apropriam da cultura surda e militam pelos direitos da coletividade surda.

A construção da identidade da pessoa surda é influenciada por fatores diferentes, como contexto familiar, contato com comunidades surdas, etc. A literatura consultada faz referência a, pelo menos, cinco tipos de identidade manifestos por diferentes pessoas surdas, os quais se busca explicar adiante:

  • Identidade surda: diz respeito aos sujeitos surdos que se inserem plenamente na comunidade surda e se reconhecem como pertencentes à mesma, usam apenas língua de sinais, apresentam características culturais e forma de estar no mundo baseadas na visualidade, defendem e militam pelo direito de ser diferente e de vivenciar a cultura surda. Essas pessoas partilham sua concepção e suas experiências com outros surdos e participam de espaços de encontro entre pessoas surdas, como grupos e associações. Trata-se de um posicionamento político ante a surdez, muito além do encontro de pessoas com as mesmas características biológicas. Não há uma concepção inferiorizante de surdez ou de uma superioridade da perspectiva ouvinte, mas a aceitação e valorização das diferenças e do que é pertinente à cultura surda. Normalmente, sujeitos que apresentam identidade surda são surdos congênitos ou adquiriram a surdez muito cedo.
  • Identidade híbrida: característica de pessoas com surdez adquirida, que aprenderam inicialmente a estar e participar do meio e construir o pensamento como ouvintes, utilizando também uma língua oral para se comunicar, e que passaram a estar imersas no contexto da surdez, como pessoas surdas. Sendo anteriormente ouvintes, essas pessoas dependem concomitantemente da linguagem oral e da sinalizada. Reconhecem-se como surdos, convivem com as identidades surdas, participam das associações e comunidades surdas, demandam direitos atinentes aos surdos, como intérpretes, legenda, etc. e utilizam recursos desenvolvidos para o contexto da surdez, como campainhas luminosas, telefones adaptados e outros.
  • Identidade de transição: a maior parte dos surdos, sendo oriundos de famílias ouvintes, passa por um processo de transição entre a tentativa de estar no mundo a partir da perspectiva ouvinte e de uma linguagem oral e visual truncada, característica dos primeiros anos de sua vida, para um contato tardio com a comunidade surda, comunicação visual sinalizada e a experiência visual de mundo.
  • Identidade flutuante: característica de pessoas que não foram inseridas em alguma comunidade surda.  Essas pessoas costumam ter dificuldades de se reconhecer/aceitar como surdas e buscam sua referência na cultura ouvinte. Valorizam e seguem a representação ouvinte, considerando-a superior à surda. Independentemente do nível de seu comprometimento, usam aparelhos auriculares e se orgulham de se apropriar de algum elemento da cultura ouvinte, como a utilização da língua oral. Rejeitam a cultura surda, não participam da comunidade surda nem das suas lutas, e não conhecem ou não recebem/utilizam tecnologias nem apoios direcionados a pessoas surdas, como intérprete de língua de sinais. Vivem alguns conflitos emocionais, buscam competir com ouvintes, podem se ressentir com outros surdos, podem apresentar depressão e outros problemas.
  • Identidade embaraçada: característica de pessoas que não têm referência nem na cultura surda, nem na ouvinte. Apresentam dificuldades de comunicação, sendo as expressões que usam, por vezes, incompreensíveis. Não sabem usar língua de sinais. Têm a vida, o comportamento e aprendizados determinados pela perspectiva ouvinte.

Observa-se que o coletivo de pessoas surdas, como é característico das coletividades humanas, é heterogêneo, sendo necessário compreender e respeitar essa diversidade. Sem desrespeitar o direito de a pessoa assumir o posicionamento que considere melhor, observa-se também a importância de oportunizar a ela o contato com outras pessoas surdas, o que permitirá que ela possa se apropriar de formas de vida e tecnologias que facilitem a sua vida e a comunicação com os demais.

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